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terça-feira, 29 de junho de 2021

Aurélio Carneiro: Um poeta bom de rimas e aventuras



A trajetória de resistência cultural, empreendida pelo poeta, o qual tenho a honra de narrar, é similar a de outros artistas nordestinos de seu tempo,  erguida nas bases firmes da luta, suor, esperança e amor a arte. No texto, o leitor perceberá,  que na luta pela garantia do sustento da família, trabalhando na agricultura ou mineração, nunca se desvencilhou de seu fazer poético de improviso, com versos líricos e teluricos, inspirados no cotidiano dos lugares onde se aventurou a percorrer e viver.

 Na cidade de Esperança, do vizinho estado da Paraíba/PB, no dia 25 de dezembro de 1925, nasceu o poeta Aurélio Carneiro do Nascimento, na mesma cidade foi batizado, e nela viveu e trabalhou na agricultura, em companhia de seus genitores e irmãos até os 20 anos de idade. Nos Lírios Verdes da Borborema, teve uma infância simples, comum aos meninos pobres de sua época. Seus pais eram o agricultor e poeta   Manoel Carneiro do Nascimento (In memoria) e a dona de casa Maria Teodora do Nascimento (In memoriam).

Sua família conta, que Aurélio, aprendeu a ler sozinho, graças a sua enorme força de vontade e persistência, por meio de uma cartilha do ABC e leituras de romances de cordel, comprados na feira, lidos nos intervalos da pesada labuta na roça, soletrando cada letrinha impressa no papel.  Como era filho de poeta, logo aos 12 anos, se interessou por cantoria de viola, em seguida, com um instrumento emprestado, começou a improvisar os primeiros versos e se apresentar nos sítios vizinhos, em casas iluminadas por luzes de lamparinas ou lampiões. Quando completou duas décadas de vida, migrou para o centro oeste do país, para trabalhar em fazendas de Uberlândia/MG, Ituiutaba/MG e Castelândia/GO.

Ainda de acordo com Cleonice, sua filha, na  juventude, o Poeta Aurélio,  serviu ao exército em Natal/RN. Seus descendentes contam que lá, foi obrigado por um tenente a comer uma lagartixa crua, com arma apontada para sua cabeça, fato que o deixou revoltado, a ponto de rasgar  a própria farda a golpes de faca, esse ato de rebeldia juvenil, foi a gota d’água, para a sua prisão e, consequente, saída das forças armadas. "Depois de abandonar a vida militar, como era de se esperar, Aurélio, se dedicou a antiga paixão e o sonho de se tornar uma   cantador de viola profissional,  para expandir seu talento de versejador, cantando em terras paraibanas, potiguares e outros estados nordestinos, na maioria das vezes, viajando à cavalo, a pé ou de carona", ressaltou.

Em razão dos escassos recursos, conseguidos nos repentes de viola e nas lutas diárias no campo, demorou a conseguir comprar a próprio viola, acontecimento vitorioso, que só se concretizou aos 25 anos de idade, após muita economia e, sobretudo, depois de vender de duas cabras de estimação. Depois que cantar em vários lugares, com espirito aventureiro, de posse de sua viola, entrou como clandestino em uma tripulação marítima, que iria para fora do Brasil, viajou em navio escondido, até ser descoberto pelo capitão da navegação, que o deportou.

A filha também fez importante revelação, acerca das reviravoltas, na vida de o espírito bandoleiro do então jovem poeta: "Na Bolívia, meu pai  conseguiu com seu talento poético, levantar o dinheiro necessário para se alimentar e, mediante caronas, voltar para o lugar de origem", enfatizou. Quando regressou à Paraíba, retornou a fazer repentes de viola, com duplas do RN, inclusive, de Currais Novos e Lagoa Nova/RN, cidade serrana, onde conheceu o amor de sua vida: Maria Gonçalves dos Santos (in memoriam), com quem contraiu matrimônio e formou uma família composta de 10 filhos, sustentados com as atividades rurais e com as arrecadações das cantorias realizadas nos fins de semanas, fazendo dupla com os poetas Pedro Henrique, Paulo Pereira, Tico Texeira e outros. Depois, sua descendência aumentou, com o surgimento de 8 netos e 6 bisnetos.

 Após o  casamento com uma lagoanovense, morou muitos anos de favor ou em residências alugadas. Continuou com seu tempo dividido, entre o trabalho artístico nas cantorias, lavoura, criações de bode, galinhas e atuou como operário em mineração de cambita nas cercanias, conseguindo juntar dinheiro e adquirir sua casa própria. Após constituir família, com os filhos pequenos, trabalhou em fazendas goianas, e depois de ver incêndios e assassinatos misteriosos, acontecidos nos barracões, voltou a viver em definitivo na cidade Lagoa Nova, lugar que amava, e onde foi sepultado em janeiro de 2012. A relação migratória do poeta para Lagoa Nova, após se apaixonar por mulher potiguar, é uma entre tantas outras, que engrossam as estatísticas e enriquecem o anedotário e a identidade cultural local.

Infelizmente, não ficaram  registos, de suas criações literárias ou de participações do poeta, em festivais de repentes de violas,  à não ser, na oralidade e nas lembranças de familiares e contemporâneos de suas cantorias.

No entanto, aparti de julho, o saudoso poeta, será homenageado em Cordelteca, que será instalada em uma das escolas, situadas na zona rural de Lagoa Nova/RN, lugar que lhe acolheu em boa parte de sua vida.

 

Por Eliabe Alves-Jornalista e Vereador.

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