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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Francione Clementino: lembranças, saudades, legado e inspiração


Em agosto de 2014, durante a IV Semana dos Trovadores, evento anual realizado pelo centro Acadêmico Fátima Barros na UFRN, do qual sou um dos criadores, mais uma vez estávamos juntos, para externarmos as nossas experiências no fazer artistico (Arquivo pessoal).

Por Eliabe Alves
Muitos, foram os momentos e lugares, nos quais pude contar com a amizade e generosidade de Francione Clementino da Silva, o nosso inesquecível “França”, de quem nessa quarta-feira 05/02, nos despedimos com saudade e desejamos um bom descanso ao lado de Deus. “França”, enquanto poeta, ao longo da carreira estave disposto a colocar a sua inteligência a serviço da cultura e do pensamento da cidade, sendo assim, em nossos saraus literários, lá estava ele recitando seus cordéis satíricos de humor cortante e mordaz, com decassílabos, nos quais, exprimia perspicácia criativa de bom versejador. 

Ao longo do tempo, mantivemos uma relação de amizade e cooperação artística, haja vista que ambos tínhamos um comum encantamento pela as artes. Em 2008, por exemplo, noivo com a professora Josiane Darc e sem pestanejar, o poeta pensou em fazer um convite de casamento diferente, que retratasse a veia cômica, própria da verve de seu espirito aberto a inovações e, assim sendo, me procurou para que eu desenhasse sua caricatura, envolto em laço, que por sua vez era puxado por sua cônjuge. 


No mesmo ano, participamos do recital literário, em homenagem aos 35 nos de fundação da biblioteca municipal Profª Bernadete Xavier Gomes, ocasião em que o cordelista declamou versos do folheto “Exame de próstata é moleza. O perigo é se aviciar”, que havia sido lançado em 2005. 2012, como era ano de eleições municipais, mais uma vez, embarquei em sua aventura criativa, ilustrando o cordel “Comprar voto é bom demais”, que foi vendido na Feirinha de São Francisco, alternativa de discurso poético contra os maus costumes políticos regionais. Em agosto de 2014, durante a IV Semana dos Trovadores, evento anual realizado pelo centro Acadêmico Fátima Barros na UFRN, do qual sou um dos criadores, mais uma vez estávamos juntos, para externarmos as nossas experiências no fazer artístico cotidiano.


Obras literárias lançadas em 2007, fruto do genio e da pena versátio de Francione (Aquivo Pessoal).
No mesmo ano, participamos do recital literário, em homenagem aos 35 nos de fundação da biblioteca municipal Profª Bernadete Xavier Gomes, ocasião em que o cordelista declamou versos do folheto “Exame de próstata é moleza. O perigo é se aviciar”, que havia sido lançado em 2005. 2012, como era ano de eleições municipais, mais uma vez, embarquei em sua aventura criativa, ilustrando o cordel “Comprar voto é bom demais”, que foi vendido na Feirinha de São Francisco, alternativa de discurso poético contra os maus costumes políticos regionais

No entanto, não era só no campo das artes que nossos pensamentos convergiram, em 2016, o amor pelo nosso município, nos levaram ao mesmo palanque político em apoio a coligação Unidos por Lagoa Nova. Ele na condição de candidato a vereador pelo (PTB) e eu como apoiador, acreditamos e defendemos o mesmo ideário eleitoral. Na disputa, o poeta que era servidor concursado da câmara, não obteve êxito, posto que, ele não levou a sério, a necessidade de pedir de voto aos eleitores afirmando aos mais próximos, como era de seu feitio humorístico: Estou nessa, para ajudar nosso candidato e garantir férias extras do trabalho”. 


Discurso poético com víeis popular, conhecido nas rodas literárias como “poesia matuta”, inspirado na fala coloquial do povo, carregado de humor, era o gênero prediletos de Francione (Arquivo Cedido).


Como jovem intelectual de estilo boêmio, sempre que podia curtia a noite lagoanovense e, sempre era recebido com alegria e brincadeira por uma legião de amigos, que dialogavam com ele sobre futebol, festas, religião, política municipal, estadual ou nacional. Outra boa pedida, dos encontros com os companheiros noturnos, era ouvir a músicas ou comentar letras preferidas de Raul Seixas, Zé Ramalho, Legião Urbana, Capital Inicial. Que inclusive, chegou a organizar caravana, que pegavam a estrada com destino a capital potiguar, para ir assistir shows de bandas como a do vocalista Dinho Ouro Preto. 

Francione clementino, tinha licenciatura em Letras e pós-graduação em Língua Inglesa pela UFRN. Além de sua terra natal, também era concursado no vizinho município de Bodó, lugar onde lecionou Inglês e disciplinas complementares, nas escolas Manoel Catarino e José Maria do Nascimento. Durante o ano de 2017, primeiro ano de governo do prefeito Luciano Santos, exerceu o cargo de secretário executivo da prefeitura de Lagoa Nova/RN, ali passamos a conviver diariamente, haja vista à época, que a salinha de comunicação, ficava vizinha ao seu espaço de trabalho, assim passamos meses em sua companhia, aumentando a nossa amizade, ao sabor de tiradas de humor, anedotas e sorriso meleque no rosto. 

Legado do escritor 

Na ceara literária, deixou como legado os cordéis: O morto que inviveceu (2004); A fila no céu (2005), Exame de próstata é moleza. O perigo é se aviciar (2005); Chamego com a viúva (2008); Compra de voto é bom demais (2012); Promoção da Coca Cola (2015). Porém sua contribuição cultura, não para por aí, ainda publicou os livros “Romance: Vila dos Lobisomens (2007); Poesia: (Hoje palavras, amanhã poesias (2017). 

Francione, como escritor de pena versátil, é possível perceber que 20017, foi a fase mais produtiva de sua carreira, além de escrever cordel, publicou o livro “Ontem palavra, amanhã poesia”; romance “Vila dos Lobisomem” e redigia a coluna “Informe Legislativo” no jornal “A Notícia”, apresentando resumos dos requerimentos, projetos e discursos dos vereadores de Lagoa Nova/RN. 




Discurso poético com víeis popular, conhecido nas rodas literárias como “poesia matuta”, inspirado na fala coloquial do povo, carregado de humor, era o gênero prediletos de Francione, esse gênero poético permeou os cordéis imaginados e escritos por ele, em 2015, publicou o último, com título “A promoção da coca-cola”, cuja capa trás impressa a xilogravura de Edilson Aureliano, descrevendo um romance nas areias da praia entre o casal “Ciço e Antonha”, conforme está descrito nos versos de abertura: “Certo dia numa praia/ Um casal de namorados/ Resolveram entrar na baia/Provando ser apaixonado/O noivo mêi sem vergonha/ Propôs para Antonha/Uma coisa esquisita/ Pra que debaixo da lua/Antonha ficasse nua/ Naquela noites bonita”. 

Romance fantástico

A obra de ficção “Vila dos Lobisomens”, assim com o outro livro mencionado, encontra-se esgotada, na posse de leitores e colecionadores, não sendo possível encontra-la em livrarias. Saiu em tiragem por volta de 500 exemplares, publicado de forma artesanal e, por sua vez, foi lançado em stand da Feirinha de Sant’ Ana. É uma narrativa curta, inspirado no folclore brasileiro e tem na lenda do “Lobisomem”, o clímax, ou seja, o ponto mais alto da história, cuja a ambientação é situada em Cabrobó, alto sertão pernambucano, cuja a estética e enredo lembram o estilo do escritor colombiano Gabriel G. Max, ícone da que que ficou conhecido como “Literatura Fantástica”. 

Assim como os poetas românticos e parnasianos, Francione Clementino faleceu precocemente aos 37 anos de idade, deixou viúva Josiane Darc Carlos Santos, de 36 anos, com quem foi casado durante 12 anos e o filho Arthur Carlos Clementino de 9 anos. Francione, nasceu em 11 de outubro de 1982, filho de Theodoro Clementino de Medeiros “Dorico” e Maria Francisca da Silva “Liínha”, vindo de uma numerosa família e mesmo de origem humilde, galgou posição de destaque na vida profissional.

Aplausos, para sua trajetória inspiradora e legado imortal !



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