Querido, tio Zé Luíza
José Martins dos Santos, meu querido tio avô, era homem lúcido e de boa memória. De corpo espigado, mesmo em idade de 93 anos. Como manda a antiga tradição, reguardada pelos senhores de seu tempo, ele sempre usava uma masquinha de fumo e o chapéu de ramezone no alto da cabeça. A última vez que nos avistamos, reclamava de problemas nas pernas e a saudade do campo: " Meu filho, se não fosse essa quentura nas pernas, ainda estava trabalhando em meu roçado", dizia ele.
Grande homem, não só no corpo físico, mas sobretudo, em dignidade e honradez. Desse bom homem, alegre de prosa amena e envolvente, guardo exemplos de humildade, sabedoria e amor. "Se Zé Luiza", era a forma em que ficou conhecido na cidade, um apelido, que faz lembrar o nome de sua mãe Luíza Maria da Conceição, mulher sofredora, que ficou viúva ainda jovem, com uma perca de crianças para criar, em época na qual, não havia pensão e nem aposentadorias.
Em situação difícil, com lágrimas nos olhos, sua mãe Luíza, teve que doar o filho Chicó, para ser criado pelo casal de fazendeiros Teodora e Antônio Cândido. Enquanto isso, José, de mãos calejadas, ainda menino, junto aos irmãos Sebastião e Luzia, não tiveram o prazer viver a infância, órfãos de pai, tiveram que encarar a dureza da vida no cabo da enxada, trabalhando na roça de sol a sol, aínda mais, sob os rigores do padastro austero José Ribeiro de Carvalho.
Tio Zé Luiza, e sua geração vierão de longe, porém o tempo, não ofuscou simplicidade e o brilho nos olhos e nem o amor, que guardava em seu coração.
A vida para ele, não foi fácil, pois, uma vez que, é um lagoanovense da época em que tudo era difícil, inclusive a água e a subsistência do lar. Na época de sua juventude, tudo era transportado em lombo de animais de cargas. Tempo em eclodiu as pelejas e enfretamentos "perrespistas" e "liberais". Época das rudes violêcias entre os "cafeistas", "maristas" contra partidários "Perréis", liderados pelos coronéis seridoenses Tomáz Pereira e Antônio Florêncio.
Ele é do tempo dos cortejos fúnebres em redes e das caravanas que conduziam noivos em suas montarias, para casamentos em Currais Novos. Quase não existiam professores na localidade. Carro, era algo muito raro no povoamento. Não havia luz elétrica, TV, computares e celulares, são coisas que viram surgir com o passar dos anos. À custas de muitos esforços, com sua esposa "Tia Lalá", com fé e suor construíram uma bela família. Sempre em campanhia de João Jerônimo, "Tio Joca", cunhado e amigo da vida inteira, uando saia para missas, em seguida, às visitas ao irmão Bastião Ribeiro, "Tio Bastião", ou a prima Maria Martins, sentinha orgulho de falar do crescimento de sua cidade: "Eu alcancei tudo isso, uma mata só, aqui quase não tinha casa", lembrava.
Madrugador, com o hábito de começar a labuta diária, junto com as auroras das manhãs, às 4:30 da matina, seu Zé, tomava seu café e depois apreciava o quebrar da barra, despontar dos primeiros raios de luz de cada dia.
Tio Zé Luíza, agradeço a Deus, por ele nos permitido, conviver com o senhor durante tanto tempo!
Eliabe Alves-Editor Chefe de O Jornal da Serra.
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