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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Antonio Machado: 90 anos, entre o campo e a política

Membro de família com forte tradição política, Antonio Machado, ex-presidente da Câmara de Vereadores de Lagoa Nova, chega a nona décadas de vida, esbanjando lucidez e vitalidade em atividades rurais.

A dedicação ao cultivo da lavoura, em Antonio Machado, mesmo aos 90 anos de idade, ainda é algo indissociável em seu cotidiano ( Foto: Jornal da Serra).

Por Eliabe Alves

Antonio mantém rotina diária, de acordar toda madrugada, tomar um desjejum e partir para as jornadas no campo. Quando não sente câimbras nos dedos, começa por cuidar do bezerro e ordenhar sua vaca de leite, em seguida, coloca ração para as ovelhas, cortar palmas, capim e despeja na tina de borracha, pasta de algodão para o touro de estimação, isso tudo, sem falar que entre paradas regulares para lanches e refeição, também divide seu tempo, com os cuidados com o gado no curral e cultivo de pequenas lavouras. 

Ao ler esse início de perfil, pela robustez do personagem, logo você imagina, que estamos descrevendo atributos de um homem jovem, quando na verdade estamos falando de Antonio Machado Guimarães, um senhor de 90 anos de idade, que há dois anos superou uma crise renal e elevação de taxa no diabetes, hoje, impressiona a todos que o conhecem, pela energia e brilho no sorriso largo de dentes naturais. 

Antonio Machado é bom de prosa, toma aos domingos uma cachaça ou whisky, elegante no trajar, mesmo nas atividades cotidianas gosta de estar sempre de cabelo cortado, barba feita e bigodes aparados. Da casa onde reside em companhia da família, por mais de meio século, na comunidade de Macambira I, zona rural do município de Lagoa Nova/RN, de sua prodigiosa memória, retira relatos de acontecimentos que marcaram sua longa existência.

Mesmo no exercício da vida pública, Antonio Machado, nunca se desfez do trabalho com vacas de leite e um boi de trabalho (Foto de O Jornal da  Serra). 
Gênese familiar
Antonio Machado Guimarães conta que veio ao mundo no sítio Mamoeiro, município de Currais Novos/RN, em 30 de abril do já distante ano de 1929, oitavo de uma prole de 11 filhos de João Machado Guimarães, o “Janjão”, dos quais é o único ainda vivo. Seu pai migrou do Brejo de Areia/PB no início do século passado e se estabeleceu no sertão do Seridó Potiguar, trabalhando na agricultura e também exercendo oficio de  professor de primeiras letras em sítios e fazendas. Sua mãe era Tereza Rosalina Freire Galvão, filha do fazendeiro corraisnovense Manuel Pinheiro Galvão.
Antonio Machado, primeiro a esquerda, entre seus irmãos, tendo ao centro o patriarca João Machado Guimarães (Foto: Reprodução).
Percalços na caminhada
Conforme relata, ele e os irmãos, foram alfabetizados pelo pai no sítio em que nasceu, e no mesmo local, viveu com a numerosa família até 1952, ano em que a convite do cunhado Luís Pinheiro,  viajou de pau de arara até Ituítaba/MG, onde  durante  5 anos trabalhou em fazendas. Após essa curta permanência no Triângulo Mineiro, devido às sucessivas enfermidades foi aconselhado a regressar ao Nordeste. “Não me acostumei com o trabalho mineiro, existia uma planta venenosa por nome de aroeirinha, que ao bater em minha pele, se transformava em chagas de fazer dó. Foi ai que uma senhora  fez uma reza em mim, acompanhada pela dica que só ficaria bom, quando  retornasse para meu lugar de origem”, Ressalta.
Do centro oeste, Antonio diz que voltou solteiro para o sertão, nesses tempos de juventude, jogou muita bola e como vaqueiro encourado, a serviço do pecuarista Luís Pinheiro, seu primo, correu atrás de gado na caatinga e, sobretudo, derrubava bois em bolões de vaquejadas da vizinhança.
Em abril de 1958, casa-se com Alzira Pinheiro Guimarães, com quem apesar de poucos anos, conviveu harmoniosamente e gerou seis crianças. Em 1965 enviuvou, mas no dia 04 de dezembro do mesmo ano, contrai segundo matrimônio com Altamira Lopes Guimarães, que está com 74 anos, uma das irmãs mais novas da falecida esposa, com ela teve mais cinco filhos e convive até os dias atuais.  Da prole, originada nos dois enlaces, faleceu Paula já adulta e quatro ainda na infância. Hoje, estão vivos  Maria da Paz, Francisca Naide, Pedro Lopes, Francisca Noraide, José Washington  e o vereador de quatro mandatos Paulo Eduardo Guimarães, 17 netos e 10 bisnetos.
O velho chefe de família João Machado, entre as noras e netos ( Foto: Reprodução).
Início de vida pública
Devido Severino Machado, seu irmão, também ter sido político, em 1960 já morando na Serra de Santana com a mulher e os filhos, acompanhou politicamente Aluízio Alves. Em 1972, Antonio Machado, trabalhava como balconista da casa comercial de José Geraldo, quando certo dia, é procurado pelos lideres políticos,  que estavam em busca de assinaturas de apoio ao regime militar. “Seu Chicó e seu João Luís defendiam que se não atingisse a quantidade de adesão da população lagoanovense, a intervenção militar, o município deixaria de receber verbas federais”, revela.

Após essa aproximação, e também por ter assinado favoravelmente a documentação, Antonio passou a ser incentivado para ingressar na política local, apesar de só haver estudado até o quinto ano em escola formal, o fato virou realidade, após demonstrar bom senso e habilidade, ao realizar consulta popular na comunidade onde mora: “Depois que  insistiram comigo, para que eu fosse vereador, antes de dá resposta ao convite, sair de casa em casa, mostrando a ideia aos moradores, para sentir que tinha apoio do povo”, pontuou.

O político explica que a partir da aprovação popular, começou na vida pública através da ARENA e, já naquela época, sem dispor de meios de comunicações, desejava que a ordem democrática fosse reestabelecida: “Passamos um período ruim; não existiam informações, quase ninguém possuía dinheiro para comprar um rádio e ouvir a Voz do Brasil. Em contraposição ao que disse antes, falou que naquele período vivia-se algo diferente da ditadura como vemos na televisão em países comunistas, pois, em nosso país existia eleições. Admite que assinado o documento, seria em beneficio do município de Lagoa Nova”.

Ao dar testemunho, acerca das dificuldades pessoais e atraso das instâncias públicas da época, Antonio afirma que foram tempos difíceis, nos quais, os legisladores não recebiam salários e as reuniões aconteciam na sede da prefeitura, haja vista que, oficialmente, os poderes não dispunham de independência documental e nem o parlamento possua sede própria.  “Eu ia do meu sítio, para as sessões na cidade, a pé ou montado em um jumento”, lembrou.
O agora ex-vereador Antonio Machado, destaca que desempenhou duas décadas de carteira parlamentar: “Durante vinte anos, nunca perdi uma campanha, pois nunca deixei de honrar compromissos com o povo e nem com os aliados políticos”, enfatizou. 
Vereador Zé de Chagas, prefeito João Luís, vereador Antonio Machada e o Vereador Luís Tenente (Foto: Arquivo Municipal).

Vereadores Chico Luís, Vereador Zé de Chagas, locutor Francisco Jerônimo Filho e o vereador Antonio Machado (Foto: Arquivo Municipal).
Exercício da política
No ano de 1978, como convidado, na fazenda Solidão, em Serra Negra do Norte/RN, junto a outros políticos seridoenses, participou do aniversário de 80 anos do então senador biônico Dinarte Mariz, o homem mais forte do regime miliar no RN.   Ao longo da carreira política, Antonio passou pelo PDS, PFL e em 01 de janeiro de 1985, graças aos votos decisório de José de Chagas e Cícero Luís, foi eleito presidente da Câmara de Vereadores, para o mandato que durou até 01 de janeiro de 1987.
Como presidente da Casa, frisou que para cumprir a promessa de desmembramento da Câmara, feita aos edis que nele votaram, buscou orientações com os vereadores Lourival Libânio (Cerro Corá/RN) e Hélio Pinheiro (Currais Novos/RN); após isso, foi ao prefeito de então, solicitar o custeio da documentação que garantiria a emancipação, no entanto, com a recusa deste, vendeu dois garrotes do curral e pagou com recursos do próprio  bolso.
Durante a trajetória política, Antonio Manchado acompanhou Dinarte Mariz, José Agripino, Iberê Ferreira, Nélson Queiroz, e na Câmara, representou as comunidades rurais:  Macambira, Chã do Espinheiro, Sítio de Dentro e Baixa Grande, com  assistencialismo, por meio de transporte de doentes e gestantes para maternidades de hospitais de cidades vizinhas. Apresentou   requerimentos que resultaram na construção do posto de saúde próximo a sua residência, escola do Buraco da Lagoa, cisternas rurais, eletrificação rural e assistência ao homem do campo.
Como homem público, conhecedor da malícia política local, Antonio reconhece que no exercício de seus mandatos, recebeu muitas ajudas de Francisco Jerônimo de Medeiros. Por outro lado, mesmo tendo convivido com todos os ex-prefeitos locais, faz reservas, evita palpites e prefere não alfinetar ninguém.
Parlamentares municipais: Antonio Machado, Neto Pelógio, Luis Tenente, Deca Galdino, Dedé Lopés e Zé de Chagas (Foto: Arquivo Municipal).

Parlamento no sangue
Por muitos anos, Antonio foi vice-presidente do extinto PFL (atual Democrata).  Em 1990, estava entre os legisladores, que elaboraram a Lei Orgânica do Município. Três anos depois, terminou o último mandato na Câmara. Já sem mandato, se alia ao ex-prefeito Geraldo Dantas, filia-se ao PMDB, depois é escolhido presidente de honra do partido e lança o filho Paulo Eduardo na política.
Na contemporaneidade, a família Machado, é detentora do maior número de legislatura na Câmara de Lagoa Nova, posto que, há mais de 50 anos, se reveza em seguidas gerações no legislativo lagoanovense. 
Antes de encerramos a reportagem, como típico cidadão do campo, seu Antonio se mostra feliz com as farturas nas roças de Macambira I e no Guedes, propiciadas pela abundância de chuvas desse ano e diz: “Nunca me apartei de uma vaquinha de leite e um boi de trabalho”.
Antonio Machado, abre o sorriso, ao ver suas ovelhas no chiqueiro de alvenaria (Foro: O Jornal da Serra).
O longevo Antonio Machado, feliz entre os filhos, que celebram sua existência dia após dia (Foto: Acervo da família).





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